❛ UMA NOVA SAÍDA ₊˚.꒷⤸
─── 𝓝𝐎 𝐓𝐈𝐌𝐄 𝐓𝐎 𝐃𝐈𝐄
❛❛ lost everything in the crossfire
witness the wreckage at dawn [...]
ain't no crying 'til the war's done
ain't no crying 'cause the fighting's just begun ❜❜
ㅤㅤ─ ain't no crying, derivakat
─── Yoona! ─── A voz de Suhyeok soou alta quando ele correu para abraçar Yoona assim que viu ela entrando no terraço.
Ela sentiu seu corpo se inclinar um pouco para trás devido ao baque causado pelo encontro do seu corpo e de seu amigo, mas não se importou. O barulho das portas se fechando novamente foi alto, mas sua mente estava muito ocupada tentando processar as perguntas feitas por Suhyeok. E era importante dizer que ela não parecia estar tendo sucesso, e Suhyeok pareceu perceber isso.
O garoto se afastou e segurou o rosto de Yoona entre as mãos. Foi reconfortante, no início. Yoona tinha alguém importante e que marcou sua infância junto a ela. Durante alguns longos segundos, os dois se ocuparam em procurar qualquer ferida exposta no outro, se sentindo aliviados ao perceber que não tinha nenhuma com que se preocupar. Quase, porque Yoona não conseguia se sentir totalmente bem.
Seu coração estava pesado.
Ou melhor dizendo, estava quebrado.
Suhyeok se afastou um pouco, soltando o rosto dela. Suas mãos desceram para os braços de Yoona. ─── Cadê a Yerim? ─── Perguntou um pouco hesitante. Era quase como ele se soubesse a resposta, mas esperava que estivesse errado.
O silêncio de Yoona e sua desviada de olhar ─ um olhar com lágrimas surgindo ─ foram a resposta que ele precisava. Que não precisava, na verdade.
Ele puxou Yoona para um abraço mais uma vez, sussurrando desculpas como se a culpa fosse dele. Mais uma vez, foi um sentimento bom, mas Yoona só se permitiu alguns segundos de conforto. Assim que ouviu Jinyoung falando sobre as mochilas, se afastou e foi ao lado dele. Jinyoung estava focado em uma conversa com o restante do grupo.
─── Aqui. ─── Falou olhando apenas para o garoto, tirando a mochila que carregava a pedido. Pouco tempo atrás, enquanto se esgueiravam da sala até o terraço, Yoona viu o sufoco que ele passava para carregar as duas e se ofereceu para ajudar. E tentou ignorar os olhares dos outros. Juntando toda sua força, porque não queria falar com ninguém, Yoona se virou para o grupo que já estava lá antes dela chegar. ─── Vou fazer um sinal para os helicópteros. Tem alguma coisa aqui?
Onjo confirmou com um aceno. Tinham entulhos empilhados próximo a eles, e Yoona sabia que todos tinham ouvido os helicópteros ─ era impossível não ter ouvido. Talvez tinham juntado essas coisas para isso. ─── Depois vamos fazer uma fogueira também. Pra passar a noite sem morrer congelado. ─── Onjo disse.
Yoona não se preocupou em concordar, nem deu a chance de falarem outra coisa com ela antes de virar as costas. Ignorou até mesmo Taewon, que tentou segurar o braço dela, para seguir até os entulhos.
Não queria conversar com ninguém naquele momento. Só queria fazer o que tinha que fazer e sair dali viva. Ela devia isso a Yerim.
Taewon estava encostado na parede ao lado da porta do terraço. Seus braços estavam cruzados, com um dos pés apoiados na parede para se manter estável, e seu olhar estava fixo em Yoona. Assim como Onjo sugeriu, eles fizeram uma fogueira depois de terminarem o sinal de socorro para os helicópteros. É claro que ele foi até Yoona ajudar, mesmo depois de ter sido ignorado por ela. Ela estava lidando com algo que ele sequer poderia imaginar.
Assim como os outros, Yoona estava sentada perto da fogueira improvisada. Estava de costas para Taewon, mas ele continuava olhando. Tinha medo de que alguma coisa acontecesse se ele desviasse o olhar.
─── Vocês estavam juntos antes? ─── Uma voz falou ao lado dele.
Olhando para o lado, Taewon se encontrou cara a cara com Suhyeok, o amigo de infância de Yoona. Como um admirador de Yoona, ele sabia muito bem quem o garoto era. Nas raras tardes mais quentes, Yoona costumava ficar no gramado próximo à quadra com o restante de sua turma, e dizer que Suhyeok a irritava como uma criança de dois anos nesses momentos era um simples entendimento.
Esses dias eram os favoritos de Taewon. Yoona não conseguia fingir tão bem nesses dias. Era como se o sol a deixasse mais livre.
Taewon descruzou os braços e virou seu corpo para Suhyeok, mas voltou a focar seu olhar em Yoona ─ sem sequer perceber que o outro garoto fez o mesmo, ambos preocupados. ─── Sabe o que aconteceu?
─── Eu fui atrás dela. A gente tava junto desde o começo, nós cinco. ─── Taewon falou, colocando as mãos frias nos bolsos da calça. Respirou fundo, seu olhar colado em Yoona. ─── A gente passou a noite no ginásio do segundo ano, mas ela queria sair. Quando vocês falaram da sala de transmissão, elas quiseram sair. Eu não ia deixar elas irem sozinhas, a gente não ia.
Suhyeok apoiou o pé em uma das pequenas pilhas de madeiras que estavam ali, chamando a atenção de Taewon por alguns segundos. Ele parecia estar se sentindo incapaz de ficar totalmente parado, e Taewon entendia o sentimento.
─── Aquelas coisas tavam todas distraídas, mas de repente elas voltaram, sei lá. A gente tentou entrar aqui, mas tava trancado, então a gente ficou numa sala ali embaixo. ─── Taewon suspirou, passando uma mão no cabelo e desviando o olhar para o chão. ─── Eu- Eu não vi o que aconteceu, quando ela falou alguma coisa já era tarde demais. Eu devia ter protegido as duas. Pela Yoona. ─── Sua voz saiu rouca no final da frase.
Eles passaram mais alguns segundos em silêncio. Até os alunos de outros anos pareciam ter um certo apego a Yerim, ele não conseguia imaginar o quanto Suhyeok sentia por ela. A voz do outro garoto quebrou quando ele tentou voltar a falar, e precisou coçar a garganta para conseguir sair. ─── Quanto tempo fazia? Quando vocês chegaram aqui.
Taewon ainda estava escorado na parede, e não olhava para Suhyeok de propósito dessa vez. Ele conseguia ouvir a emoção na voz do garoto mais novo. Esse era o máximo de privacidade que conseguia dar a ele. ─── Não muito. A gente não sabia como subir aqui de novo, depois de termos que nos trancar numa sala. Foi aí que ela contou. Disse que ia atrair os- as coisas pra longe... pra gente conseguir subir.
Depois de um silêncio surgir entre eles, Taewon finalmente olhou para Suhyeok. O garoto encarava um ponto aleatório, com certeza divagando entre os seus pensamentos.
─── Com certeza é uma coisa que ela faria. ─── Suhyeok deu uma risada baixa. Não era uma risada por achar engraçado, Taewon percebeu que era algo próximo de conformação. Se fosse fazer um chute mais arriscado, diria que poderia ser até mesmo alívio.
A verdade era que Suhyeok estava aliviado por saber que ela foi ela mesma até o fim. Yerim era mais forte do que qualquer um deles, e sempre seria.
Mesmo não conhecendo Yerim tão bem assim antes, Taewon entendia até um certo ponto. O espírito dela ficou bem claro nos últimos dois dias. Seu olhar voltou para Yoona mais uma vez, sem ele sequer perceber. ─── Ela não te culpa. Você sabe disso, não sabe?
Taewon concordou com um aceno. ─── Ela tá muito ocupada se culpando pra fazer isso. ─── Respondeu, sem desviar o olhar dela. Sabia que era uma tentativa de conforto, mesmo que os dois não fossem próximos, mas ele preferia que ela o culpasse em vez de se culpar. Não queria que Yoona sofresse mais do que já estava sofrendo.
Suhyeok soltou o ar pelo nariz, respirando fundo. ─── Obrigado por estar aqui por ela. Yoona também se sente agradecida por isso, mesmo que não fale.
─── Eu espero que sim, porque eu vou continuar aqui até que ela me mande embora. ─── Taewon prometeu, com a voz firme sem espaço para qualquer dúvida.
Disposto a cumprir sua promessa, ele se afastou de Suhyeok com mais um aceno de cabeça e caminhou até Yoona.
Yoona estava em seu próprio mundo.
Seus olhos encaravam a fogueira em sua frente, mas sua mente estava bem longe. Eles estavam vazios de qualquer emoção, enquanto ela tentava se manter firme. Tinha decidido afastar suas emoções e pensar e repensar cenários diversos para que conseguisse se salvar e salvar seus colegas. Seria mais produtivo.
Todos estavam contando com a ajuda dos helicópteros do exército e era exatamente por isso que estava pensando em situações que não envolviam eles. Precisavam ter vários cenários preparados se quisessem conseguir sair dessa situação toda vivos. Se algo desse errado, não deveriam contar com a sorte.
E Yoona, provavelmente melhor do que todos ali, sabia que o exército não era tão confiável.
─── Você nunca me contou onde ganhou o colar. ─── Uma voz falou ao seu lado. Ao mesmo tempo, um rosto apareceu no seu campo de visão. Taewon estava atrás dela, se movimentando para sentar ao seu lado. Sem qualquer preocupação com espaço pessoa.
─── Desculpa, o que foi? ─── Yoona perguntou, desviando o olhar do rosto próximo do garoto para as próprias mãos. Sua voz saiu tão baixa que ela mesma estranhou. Ainda assim, segurou a vontade de coçar a garganta para ver se melhorava, porque sentia que admitiria que algo estava errado se fizesse isso.
─── O colar. ─── Ele apontou para o colar que Yoona tinha em mãos.
Assim como todas as vezes em que sentia qualquer tipo de emoção forte, ela estava segurando ele entre as mãos. Era um hábito, principalmente quando estava perdida em pensamentos. Era um gesto inconsciente, mas que ajudava Yoona a se confortar. Mesmo que usasse o colar há pouco tempo, não conseguia se lembrar do que fazia quando não o usava.
Yoona não era uma pessoa de usar acessórios. Sua maneira de se vestir costumava ser bem simplista, e Taewon sabia disso. Ele não se lembrava de sequer ver a garota usando o anel que ganharam na formatura do fundamental, diferente da maioria dos outros alunos. E não era um anel exagerado.
─── Ah. ─── Yoona murmurou, abaixando o olhar para o colar. ─── Foi minha mãe quem me deu. Então o silêncio pairou entre os dois mais uma vez, intensificando o som da conversa dos outros colegas ── que sequer prestavam atenção nos dois. Justo quando Taewon imaginou que ela pediria para ele deixar ela em paz, Yoona falou algo que ele não esperava. ─── Foi um presente dela no meu aniversário de quinze anos.
Sua voz estava baixa mais uma vez, mas dessa vez parecia proposital. Foi impossível para Taewon ── na verdade, para os dois ── não perceber a guarda de Yoona abaixando.
─── Ela sempre quis que eu usasse acessórios, queria que eu mostrasse algum tipo de vaidade usando eles. E eu nunca quis, é óbvio. Não posso dizer que me incomoda, mas não posso dizer que é uma coisa que eu gosto. E a minha mãe é- era- ─── Pigarreou, apertando os próprios dedos para conter sua ansiedade. Percebendo isso, Taewon se aproximou um pouco. Não queria assustar Yoona, então apenas deixou seus joelhos encostarem. ─── Ela sempre foi bem insistente, então quando eu fiz quinze anos ela me deu esse colar e disse que ele podia servir de conforto.
Yoona respirou um pouco, segurando o pequeno jarro preto que o colar segurava.
─── Ela disse que eu podia colocar alguma coisa importante pra mim, um amuleto, aqui dentro e segurar quando me sentisse sozinha. Pode ser idiota, mas acabou que funcionou. ─── A última frase foi um murmuro, como se estivesse falando sozinha.
─── Não é idiota. ─── Taewon assegurou, sentindo vontade de abraçar Yoona.
Eles ficaram em silêncio mais uma vez. Diferente de antes, não foi desconfortável. Yoona não se moveu para se afastar, e ele tomou isso como uma vitória. Estava contente com o silêncio, até que percebeu algo e olhou para ela. Foi tão repentino que Yoona olhou para ele na mesma hora, notando a expressão confusa de Taewon.
─── Mas você já tem quase dezessete. ─── Ele inclinou a cabeça para o lado, como um cachorro curioso. Yoona quase achou adorável, sentindo seu coração pesar um pouco menos. ─── Por que você só começou a usar ele ano passado?
A pergunta prendeu sua atenção mais uma vez. Yoona encarou Taewon por alguns segundos, afundando em pensamentos sobre responder ou não. No final, decidiu olhar para a fogueira mais uma vez antes de dar de ombros. ─── Eu não tinha motivo pra usar ele antes.
─── Então você tem um amuleto? ─── Ele perguntou, aproximando seu rosto mais uma vez com um sorriso. Taewon estava curioso, e era óbvio, principalmente pelo sorriso que Yoona conseguia enxergar pelo canto de olho. ─── E o que é?
Yoona virou o rosto para mais longe dele assim que sentiu sua bochecha esquentar. Com sorte, pareceria que era do a iluminação do fogo. ─── Não é da sua conta.
Poderia parecer uma resposta rude para outros, mas Taewon estava acostumado com o jeito da garota. Sinceramente, Taewon até gostava de quando ela ficava assim. Por isso, tudo que ele fez foi dar um sorriso presunçoso e passar o braço ao redor dos ombros da garota. ─── Um dia eu faço você me mostrar, vida.
─── Ei! ─── Yoona resmungou, sentindo seu rosto esquentar mais ainda. Como em todas as vezes que ficava sem jeito, ela não soube o que fazer então apenas empurrou o braço do garoto, revirando os olhos ao ouvir a risada de Taewon.
Para ele aquilo era mais do que o suficiente. Ele estava satisfeito por ter conseguido distrair ela, mesmo que um pouco, e por sentir uma certa normalidade em meio ao caos que se encontravam.
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