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A sala de estar estava iluminada apenas pela luz amarelada do lustre pendurado no teto. O som dos talheres batendo contra os pratos preenchia o silêncio desconfortável do jantar. Meu pai conversava distraidamente com minha madrasta, enquanto minhas irmãs mais velhas trocavam risadas sobre algo que eu nem havia prestado atenção. Tudo parecia normal. Mas algo dentro de mim dizia que não estava.
Olhei para a varanda. A paisagem urbana se estendia diante de mim, recortada pelo vidro que separava o apartamento do vazio lá fora. Prédios, ruas, carros em movimento. Tudo estava como deveria estar.
Exceto por um prédio em particular.
Ele ficava a alguns quarteirões de distância. Suas janelas piscavam, como se a luz dentro delas estivesse falhando em um ritmo caótico e aleatório. Arqueei as sobrancelhas, curiosa. A iluminação péssima poderia ser apenas um problema elétrico, mas conforme forcei a vista, notei algo muito pior.
As pessoas dentro daquele prédio estavam correndo.
De um lado para o outro, freneticamente, como ratos encurralados em um labirinto em chamas. Algumas batiam contra os vidros, outras desapareciam nos corredores escuros. Meus batimentos aceleraram.
— Vocês estão vendo isso? — perguntei, tentando chamar a atenção das minhas irmãs.
Elas sequer olharam. Uma delas soltou uma risada abafada e acenou com a mão, como se eu tivesse dito algo irrelevante.
Virei-me de volta para o prédio e levei um susto.
Uma figura estava na beirada de uma das janelas. Parecia um homem, mas o cabelo longo balançava com o vento. Ele olhou para baixo por um momento e, sem hesitar, pulou.
Minha boca se abriu, mas antes que pudesse soltar um grito, vi o impossível acontecer: ele não caiu. Em vez disso, agarrou-se à fachada do prédio vizinho e, com movimentos rápidos e sobrenaturais, escalou a estrutura e entrou em uma nova janela, desaparecendo no interior escuro.
Meu coração martelava no peito.
— Gente, por favor, olhem isso! — insisti, me levantando da mesa.
Foi quando a televisão mudou abruptamente para uma transmissão de última hora. A voz séria do repórter preencheu o ambiente:
"Algo desconhecido está acontecendo na cidade. Relatos de caos e desespero são registrados em diversos pontos, e ainda não há uma explicação oficial."
Meu pai franziu a testa. Minhas irmãs finalmente pararam de conversar. Todos olharam para a tela.
Mas eu já sabia. Eu tinha visto. E agora, nós precisávamos sair dali.
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