Seis meses depois
Eu ainda me lembro perfeitamente do dia em que o vi pela primeira vez.
Acreditei que não seria contratada, não só pelo atraso, mas pelo meu currículo que não era grande coisa.
Melhor teria sido, se de fato não fosse!!
Rodrigo Garro, meu chefe, era tudo o que chamo de insuportável. Chato. Um grande mesquinho. Seus olhos bonitos e sorriso inocente, enganava a todos que o via. Quando na verdade, o homem era somente mais um jogador esnobe.
Não que eu esteja a reclamar. (Ou, eu esteja mesmo). Mas era difícil não falar mal de alguém, que passava 14 horas do meu dia, me atazanando;
" Marcela, Já mandou as roupas para a lavanderia?"
" Marcela marcou a reunião com o Marcos ( Seu empresário) ?"
"Marcela, você já foi na farmácia?"
"Marcela, macela, Marcela..." Inferno!!!
Ouvir meu próprio nome havia se tornado um gatilho. Eu era uma faz tudo nessa casa, e quer saber, eu só não me demitia porque tinha contas a pagar.
E não poderia me dar o luxo de ficar desempregada, ainda mais agora que finalmente conseguir dar entrada em minha primeira moto, não era grande coisa e havia pegado de segunda mão, todavia, já era melhor que andar de ônibus em um calor desgraçado.
Maldito seja os meus pais por não ter me feito herdeira. Triste.
Para variar naquela sexta, havia chegado atrasada. Ainda ofegante, corria em direção a sala. Hoje, o Garro teria um encontro com seu empresário, e eu deveria ter chegado a pelo menos umas meia hora atrás.
Afinal, o bonitinho dos olhos verdes, me faria de empregada mais uma vez, e seria eu a executar o Trabalho de servir cafézinhos e biscoitinhos. Como sempre.
— Atrasada de novo, senhorita Junqueira? Está é a segunda vez, só nesta semana. Qual o seu problema com a pontualidade? — Garro me encarava com aquela expressão de desgosto habitual, enquanto cruzava os braços de maneira quase teatral.
Tentei não revirar os olhos. Não estava com paciência para o sermão de sempre, mas sabia que ele viria.
As vezes questionava-me o porquê dele ter me contratado. Deste o primeiro momento em que nos vimos aquele dia, eu já tinha cometido uma Gif ao errar o dia da entrevista seletiva, meu currículo era mais vazio que a sala de Troféus do Botafogo.
E eu aposto que haviam outras garotas mais qualificadas que eu. Talvez, o homem havia tido dó, depois do drama que fiz para que me contratar-se. Ou, ele somente viu em mim, uma oportunidade de ter um burro de carga em sua casa.
Aposto fielmente na segunda opção.
— Eu tive um contratempo... — murmurei, já sabendo que qualquer desculpa só serviria para prolongar a conversa.
— Sempre tem um contratempo, não é? — Ele suspirou, lançando um olhar irritado em minha direção. — Eu realmente preciso de alguém que leve este trabalho a sério. Se você não consegue, talvez devesse repensar suas prioridades.
Segurei a vontade de explodir. Não que ele soubesse o que era "repensar prioridades". O homem vivia numa bolha de luxo e regalias, completamente alheio ao mundo real.
— Desculpe, eu promet... — Me interrompeu..
— Ta desculpada. Agora, Faz um favor para mim. — Ele disse em tom de ordem, sem esperar qualquer resposta. — Vai buscar o relatório financeiro que deixei na mesa da sala e coloca no meu escritório. E, por favor, vê se não demora. O Marcos está quase chegando.
Assenti, com a paciência por um fio. Assim que ele se virou para subir as escadas em direção ao escritório, deixei escapar um resmungo. Peguei uma folha qualquer da bancada, balancei no ar como se fosse um relatório imaginário e imitei sua voz:
— "Atrasada de novo senhorita Junqueira? Não já falei que não gosto de atrasos? Porque eu sou um engomadinho insuportável e não tenho ideia de que nem todo mundo tem os mesmos privilégios que eu".
E então, como num pesadelo vivo, ouvi uma gargalhada atrás de mim.
Merda. Não foi isso que eu estava esperando.
Parei no mesmo instante, sentindo o coração saltando na garganta. Virei-me devagar e vi Yuri encostado no batente da porta, os braços cruzados e um sorriso travesso nos lábios.
Suspirei aliviada, não que fosse tranquilo ser o Yuri, mas, já era melhor que ser o meu chefe turrão. Aí sim, ele teria um ótimo motivo para mandar-me embora.
— Para uma assistente Pessoal, você imita o Garro bem demais. — Ele continuava rindo, visivelmente se divertindo.
Pelo o que constatei nesses seis meses que estive aqui. Yuri era melhor amigo de Rodrigo e até mesmo dividia o apartamento com ele. Mas, diferente do Garro, ele quase não ficava em casa.
Não tínhamos muito contato, além de bom dia e boa noite. Todavia, o camisa nove me parecia ser muito mais gentil que o meio campista em si.
Meu rosto queimou de vergonha, e eu tropecei nas palavras enquanto tentava me explicar:
— E-eu não... isso foi só... eu estava...
Yuri levantou uma mão para me interromper, ainda com aquele sorriso de quem entendia perfeitamente a situação.
— Relaxa, Marcela. Eu sei como ele é. Garro consegue ser um pé no saco quando quer. Não vou te delatar.
Suspirei aliviada, com a tensão escorrendo dos meus ombros.
— Ele consegue ser insuportável às vezes. — Confessei, sem conseguir evitar um sorriso tímido.
Obviamente eu estava sendo gentil. O Rodrigo não era insuportável sempre. Toda hora. Todos os momentos. Mas obviamente que não iria me queimar dessa maneira.
Também não queria parecer uma falsa. Embora, eu estivesse sendo.
O Alberto riu de novo, dando um passo à frente.
— Não te culpo. Eu moro com ele, lembra? Às vezes, ele é ainda pior comigo. Mas, no fundo, ele é um cara legal.
— Não sei se vou chegar a ver esse lado dele. — Brinquei, já me sentindo um pouco mais à vontade.
Antes que pudéssemos continuar a conversa, o som da porta do escritório se abriu. Garro desceu as escadas rapidamente, com sua expressão de poucos amigos de sempre.
— Marcela, você não foi buscar o relatório ainda? O que está esperando? Vai logo! — Ele ordenou, sem sequer perceber a interação entre Yuri e eu.
Engoli em seco, sentindo o peso das ordens mais uma vez. Lancei um olhar rápido para Yuri, que me deu um sorriso de compreensão antes de me afastar para cumprir o que o "chefe" mandou.
Qualquer dia desses eu ainda irei por esse argentino em um barco qualquer e soltar-lo no mar, sem eira nem beira. Quem sabe assim, ele volta para o seu país falido, onde é o lugar dele.
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