Marius tomou um ônibus a caminho do hospital onde a garota ferida havia sido internada. Depois de ser abordado por aquele garoto sentiu uma estranha sensação de insegurança, como se algo estivesse o avisando para tomar cuidado e ser cauteloso. "Tolice, não sou movido a intuições. Nunca fui e não será agora que irei obedecer." Olhou ao redor e um vento frio soprou em sua nuca, ele sentiu um arrepio leve e isso o levou a fechar o zíper de sua jaqueta de couro marrom, a peça havia sido um presente do capitão Kane, o jovem sentia uma grande afeição pelo velho lobo do mar.

Enquanto refletia mais sobre sua vida no mar, percebeu o quanto aquele local era tão aconchegante e confortável para si. Era como se o mar e ele fossem feitos um para o outro. Kane apenas fez com que de algum modo suas almas se encontrassem, porém ele não sabia de um segredo do capitão, algo que mudou sua vida completamente e a fez rumar ao caminho que percorrerá a partir de agora.

Entre pensamentos e devaneios, ele finalmente chega à recepção do hospital. Onde uma atendente morena e muito bonita o espera. A beleza da mulher o faz lembrar-se da rainha africana dos mares, a deusa Iemanjá, santidade religiosa dos navegantes e vigilante absoluta do mar. A moça, ao vê-lo, sentiu uma simpatia inexplicável pelo garoto e logo iniciou o diálogo.

– Boa noite meu rapaz, em quê posso ajudá-lo?

– Boa noite sim! – eles sorriam um para o outro. – Eu gostaria de saber de uma moça que deu entrada aqui hoje. – ele gesticulou. – Ela tinha um corte imenso no corpo, cabelos brancos e olhos bem claros. Pode me dizer algo?

– Sim, ela está em observação. Os médicos já cuidaram da operação, mas... Ela quase não esboçou reação à dor, e os médicos relataram que era como se seu corpo estivesse se curando sozinho... Inusitado, não é?

– Bom eu diria 'fascinante'. – ele sorriu. – Será que eu posso fazer uma visita?

– Olha cara, eu não vou te dizer que sim. Para isso você tem que preencher um formulário declarando sua responsabilidade sobre ela... Espera! Você é parente dela?

– Não...

– É... Se você fosse as coisas seriam mais fáceis. Então, conhece algum responsável?

– Ela apenas apareceu no mar e a resgatamos. Não sabemos de mais nada sobre ela.

– Então você realmente deu sorte. – a moça sorriu e ajeitou os cabelos encaracolados. – Se foi você quem a encontrou pode ficar responsável por ela até que algum parente apareça. É só assinar este termo de compromisso aqui. – ela entregou a ele um papel.

Após Marius assinar, foi até o quarto 101, onde ela se encontrava. Estava nervoso e aflito por sabe-se lá qual o motivo. Até que por fim tomou coragem e abriu a maçaneta.

Adentrou o quarto devagar esperando qualquer reação contrária vinda do interior. Porém tudo parecia tão quieto como se o próprio tempo houvesse sido parado. A porta gemeu arrastadamente, revelando a moça deitada e repousando. Era como se fosse íntima a ele, uma sensação ótima o invadiu, sentia-se em casa e seguro. O ímpeto de tocar suas mãos e seu rosto era muito forte, queria abraçá-la e beijá-la. Marius não havia se tocado ainda que estava a se apaixonar imediatamente pela jovem.

A jovem garota Luna era uma joia brilhando aos seus olhos, literalmente. Apesar de a sala estar bem iluminada ele podia ver o corpo da jovem emanando uma luz brilhante e radiante. Em seguida olhou para a janela, para fora, e viu que a lua também brilhava, estava cheia e com certeza ele sentiu que de algum modo a garota e o astro estavam ligados. Suspirou e voltou a encarar Luna, ela usava um manto branco típico do ambiente hospitalar e repousava ainda de olhos fechados. Marius achava que ela estava dormindo profundamente, mas a jovem estava muito acordada e quase adivinhando seus pensamentos. Porém...

– Você é o garoto do mar, não é?

Marius soltou um suspiro de surpresa. Pegou-se tocando um dos lados de seu rosto.

– S-sim...

– Não toque uma pessoa desacordada desse jeito. – ela abriu os olhos e eles se encontraram. O castanho prateado da lua fitou o azul do mar que habitava nos do rapaz, e pairou um silêncio constrangedor entre eles, até que ela continuou. – O que está fazendo aqui?

Mais uma vez ele deu um pulo. Aqueles olhos estavam tentando enfeitiçá-lo de algum modo por acaso? Percebendo que havia deixado o rapaz sem jeito, vez ou outra ela cortava o contato visual entre os olhares.

– Eu queria ver como você está. – ele se surpreendeu pela forma como falou. – E se posso fazer algo por você.

– Você pode sim. – ela sorriu. – Poderia regular o travesseiro em minhas costas, por favor? Não quero ficar travada depois.

Os dois tiraram todos um do outro, o clima estava ficando mais amistoso e receptivo entre os dois. Ela deu um espaço e ele encostou o travesseiro na cabeceira da cama.

– Bem, poderia me dizer agora o que aconteceu com você?

O colar de Marius vibrou de leve.

– É uma história complexa. Você não entenderia.

– Pode levar o tempo que for... Não irei a lugar algum.

Quando ele terminou de falar, pegou uma cadeira e sentou-se perto da cama, quando tirou o seu colar de dentro da jaqueta a jovem se moveu.

– O que é isso? – ela chegou perto e tocou. Ele percebeu que ela estava voltando ao normal logo. – Onde você conseguiu isto? – ela continuou fitando e estavam bastante próximos agora. Tão próximos que o outro teve de se controlar para não fazer algo errado. – Me conta, por favor.

– Bem, eu consegui isto aqui quando era criança. Estávamos navegando no mar, meu capitão e eu, quando ele caiu no mar e foi sugado pela água ficando fora da minha vista por uns minutos, até que ele retornou e me trouxe isto. E colocou no meu pescoço dizendo que isto era um presente de alguém. Eu gostaria de saber quem foi este alguém... E perguntar por que ele vibra tanto.

– Ele vibra? Quando foi a última vez?

– Há pouco tempo, quando eu entrei. E há poucos segundos, quando você e eu ficamos próximos.

Luna ficou séria e então o falou.

– Você tem que prestar atenção no que vou te perguntar. – ele ficou em silêncio. – Já fez algo diferente com a água ou se sentiu diferente por estar no mar?

Marius assente positivamente com a cabeça.

– Então sua vida irá mudar ainda mais.