5º Capítulo: Ressaca.

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POV Jamie

Por que ainda acredito quando Murtagh fala que faremos apenas um happy hour para comemorar algo? Acordei com a minha cabeça latejando, a boca seca e aquele gosto inconfundível de cabo de guarda chuva, é, estava definitivamente de ressaca! Mas não precisaria me preocupar, era sábado, não era dia de ir ao laboratório e poderia curtir e agonizar tudo o que fiz na noite anterior. A parte boa da noite foi conhecer mais um pouco da Claire, será que realmente nos tornaríamos amigos? Não sei, ela agiu tão estranha, saindo sem ao menos se despedir direito.

Sei que possuo uma boa resistência ao álcool, mas sei também que ontem abusei um pouco e quando dei por mim estava sentado a poucos metros de distância dela e falando coisas sem nexo. Sei que avancei um pouco nessa nossa nova amizade, será que posso culpar as doses de whisky? Ou o Murtagh? Era sempre mais fácil culpá-lo pelas minhas decisões idiotas, mas espero que Claire não tenha se sentido constrangida com o que fiz.

Decidi não pensar mais nesse assunto, o que já estava feito não tinha como mudar, agora era torcer para até segunda ela ter esquecido e voltarmos a trabalhar como sempre, falando em trabalho, resolvi checar meus e-mails, mesmo não indo a Leoch no fim de semana, sempre tinha o costume de verificar os e-mails que eram encaminhados para o meu celular. A maioria era sem muita urgência ou importância, até que vi um que me chamou atenção, era o que estávamos aguardando há tanto tempo.

Era da OMS, provavelmente haviam mandado enquanto estávamos no Pub e claro que não tinha visto. Antes de clicar para abrir a mensagem, senti um calafrio, e se tudo que fizemos não tivesse sido o bastante? Não consegui pensar mais, além de estar com a cabeça doendo, esperar não iria mudar o conteúdo do e-mail. Abri e fui fazendo aquela leitura dinâmica, tentando focar no que realmente importava, mas logo que li um "Sinto informarmos..." , não consegui continuar, já sabia o protocolo, já sabia como seria o resto.

Senti o meu corpo desmoronar, tudo havia sido perdido, os meses de trabalho, as horas sem dormir, o ânimo da minha equipe, o gasto exorbitante dos nossos chefes e a cobrança por resultados. O que faria agora? Sabia que havia mais do que testado a paciência de Dougal quanto a esse medicamento, apesar de Colum sempre tomar a última decisão e me apoiar em tudo, eles estavam ansiosos por resultados, e logo. Como iria explicar que ainda não estava certo? Que mesmo com todos os testes positivos, não tínhamos conseguido a liberação para a próxima fase?

Resolvi, com muito esforço, terminar de ler o e-mail. Eles contestavam a falta de mais resultados concretos, alegavam que mesmo que as cobaias animais haviam reagido positivamente ao medicamento, ao soro criado, ainda não era suficiente para os testes em humanos, eles queriam mais dados sobre possíveis reações e efeitos colaterais. Como assim mais resultados concretos? Havíamos mandado dados e mais dados, ali havia mais de um ano de trabalho e provavelmente meses de anotações sobre os resultados.

Não parei pra pensar, quando vi já estava abrindo a porta da minha sala no laboratório. Não conseguiria ficar em casa, tinha que ver com os meus próprios olhos o que eles estavam alegando no e-mail. Liguei meu computador e fique relendo tudo o que havia anotado ao longo dos testes, não, aquilo não estava certo, não tinha nada incompleto, tudo estava mais do que detalhado. Estava frustrado! Não era a primeira vez que havia recebido um não, sabia que isso fazia parte do meu trabalho, mas esse eu estava sentindo lá no fundo a dor do fracasso, porque agora não era só eu, além de Murtagh, tinha a Claire. Ela havia abandonado sua pesquisa para fazer parte da minha equipe, tinha se dedicado todos os dias nesses últimos meses e para que?

Fiquei um tempo observando Angus e Rupert, nossos queridos experimentos. Eles eram a prova viva que tudo estava certo, esse medicamento funcionava, eu sabia disso. E sabia que não haveria problema algum testar em humanos. Fui até a rede de frio, onde ficavam armazenados os soros, as poucas unidades que tínhamos fabricado e fiquei os observando. Notei que permaneci ali por quase meia hora e enfim tomei coragem.

Peguei um par de luvas e com um soro nas mãos fiz algo que nunca havia feito em toda a minha carreira. Eu fui a cobaia da minha própria experiência, sem pensar nas consequências, sem me preocupar que estava ferindo todas as normas de saúde e trabalho, apliquei o soro em mim mesmo. Depois que terminei só consegui pensar: Fuck! Realmente eu havia feito essa loucura? Nunca fui uma pessoa impulsiva, principalmente no trabalho, não era assim que eu funcionava. Mas agora já estava feito e teria que arcar com as consequências e acabar com as evidências, isso era o mais importante, não poderia contar a ninguém o que havia feito, nem mesmo ao meu melhor amigo e tenho certeza que ele iria me matar por isso.

Coloquei todo o material que havia utilizado no lugar. Para ninguém notar a ausência de um soro, coloquei a ampola no lugar com um liquido semelhante, sabia que ninguém iria conferir, pelo menos não por agora. Tranquei a sala e fui embora para casa, mas não antes de comprar algo para curar essa ressaca maldita. Mas garanto que estão se perguntando o que esse medicamento seria útil em mim, uma pessoa saudável e sem nenhuma doença degenerativa? No meu caso, o soro iria agir no Sistema Nervoso Central e faria com que eu perdesse o filtro do que era certo ou errado, não teria limitações sociais, a adequação do meu comportamento seria apenas por instinto. Estava me arriscando? Sim, mas sabia que conseguiria me controlar afinal qual seria o problema de ser um pouco mais sociável?

Acordei no dia seguinte sentindo novamente minha cabeça pesada. Possivelmente era alguma reação ao medicamento. O mais estranho era que não conseguia me lembrar de o que havia feito na noite anterior, me lembro de chegar em casa após ir no laboratório, assistir um pouco de TV e pelo jeito, dormir pois ainda estava no sofá usando a roupa do dia anterior. Isso acho que era bom, até agora nada de errado comigo. Sorri e fui tomar um banho.

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