3º Capítulo: Nós dois.

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POV Jamie

Estava empolgado demais com o nosso progresso, estávamos agora muito perto de seguir para o próximo passo da pesquisa, que seria testar em humanos, mas como falei antes, tudo dependia da autorização da OMS. Só que com esses novos resultados, estava muito otimista que conseguiríamos fácil.

Mas não eram apenas os resultados positivos que haviam me deixado agitado, o abraço que havia dado em Claire tinha me deixado com uma sensação estranha no corpo e na minha mente. Por que isso? Claro, o óbvio é que ela era atraente, eu era um homem normal, e apesar de que muitas vezes as pessoas acharem que eu nem sabia o que era uma mulher devido às longas horas internadas nesse laboratório, eu não tinha como negar que algo nela me fazia ter reações involuntárias.

Só que não poderia e não esquecia, que ela era uma mulher casada e minha companheira de trabalho. Já havia visto seu marido algumas vezes, quando ele vinha buscá-la aqui no trabalho nos dias que nos empolgávamos e saíamos muito tarde, mas não sabia muito além de seu nome. Claire não costumava falar muito de sua vida pessoal, pelo menos não da vida que levava em casa com seu marido. Nossas conversas sempre giravam em torno do nosso trabalho, do que gostávamos em nossa área, o que fazíamos no período da faculdade, nada muito além disso.

Claire era uma mulher com quem eu tinha uma facilidade extrema em conversar e me sentia muito confortável em sua companhia, o que não acontecia muito com outras mulheres. Desde sempre tive muita dificuldade de conversar com as mulheres, acho que era devido a minha profissão e ao que eu amava fazer, minha vida era isso, meu trabalho, minhas descobertas e adorava conversar sobre essas coisas. Só que infelizmente a maioria das mulheres não se interessava muito em saber sobre sinapses, neurônios e doenças. Não vou ser tolo ao admitir que muitas das mulheres com quem tive algo, não estavam muito interessadas no que eu tinha para dizer, elas me achavam atraente e acho que poderia falar até sobre furúnculos que ela iriam suspirar e concordar. Ok, isso soou um pouco estranho e prepotente, mas sei que eu sou um homem que chamava atenção, tinha consciência da minha altura, do meu porte e já havia cansado de escutar sobre a cor do meu cabelo. E parece que para as mulheres isso bastava e não vou negar que já tirei um pouco de proveito disso, mas como falei anteriormente, eu tinha essa dificuldade de falar e ser eu mesmo com elas e às vezes não precisar me esforçar muito era ótimo.

Mas com a Claire eu conseguia falar sobre tudo sem me sentir um estranho e anormal. Ela se interessava pelas mesmas coisas e nossas conversas sobre descobertas científicas e o que queríamos fazer em nossos trabalhos sempre rendia longas horas. Mas nunca havíamos avançado a conversa para coisas pessoais e nunca fora do laboratório. Tinha seu contato em meu celular, mas nunca havia usado, pelo menos não que eu me lembre e era estritamente para uso profissional.

Resolvi abandonar esses pensamentos e me concentrar nos relatórios a minha frente. De nada adiantava pensar sobre ela, nossa relação era aquela e pronto. Estava satisfeito em ter uma ótima parceira de trabalho e que estava me ajudando tanto nessa nova descoberta. Olhei novamente para o computador e notei que havia preenchido apenas uma linha e meia hora havia passado. O que há de errado com você Jamie? Virei a cabeça para o lado e vi ela sentada no computador também, estava empolgada preenchendo seus relatórios e como sempre costumava fazer, cantando alguma música baixinho, apenas mexendo os lábios. Ela costumava fazer isso quando estava feliz com algo.

Nossos olhares acabaram se cruzando e sorri sem graça, logo voltando minha atenção para meu computador, mas não antes de ver Murtagh me olhando com uma sobrancelha levantada, num ar interrogativo. Apenas virei os olhos e continuei meu trabalho.

POV Claire

O dia não podia ter começado melhor. Ver o progresso de nossa árdua pesquisa era algo mais do que satisfatório e ver a alegria nos olhos de Jamie era melhor ainda. Ele havia se esforçado e se dedicado tanto nesse trabalho e merecia todos esses resultados que estávamos obtendo. Só estava torcendo para que tudo isso fosse suficiente para passarmos para a próxima e mais importante etapa da pesquisa, o teste em humanos. Sempre ficava apreensiva quando pensava nisso porque apesar de ter muita experiência na área, nunca havia feito algo parecido.

Trabalhei muito tempo na Universidade de Glasgow e lá as pesquisas eram feitas até certa etapa, depois eram encaminhadas para laboratórios como esse que agora eu fazia parte. Mas Jamie e Murtagh haviam me garantido diversas vezes que não precisava ter medo, eles tinham certeza que tudo iria dar certo e o máximo que poderia acontecer era algum efeito colateral mínimo nos humanos que seriam voluntários. Agora teríamos que aguardar ansiosamente o aval da OMS para partir para essa fase.

Enquanto isso ainda tinha muito trabalho pela frente. Sentei em meu computador para fazer a parte chata da minha função, os relatórios. Comecei a escrever e olhei para Jamie sentado a minha frente, ele estava ali já fazia um tempo e nada escrevia. Acho que tinha ficado tão feliz com as novidades do Murtagh que estava muito elétrico para se concentrar, isso era algo raro, ele sempre era tão centrado e bitolado em seu trabalho que às vezes seu amigo tinha que arrastá-lo embora senão ele não iria nunca para casa.

Nisso ele era parecido com o Frank. Desde que estamos juntos, não havia um dia sequer que Frank não ia para a universidade fazer algo, além de dar aulas, ele sempre estava envolvido em projetos e palestras e nunca conseguia fazer nada pela metade, se dedicava 100% no que fazia e admirava muito isso nele. Eu era assim também com o meu trabalho, mas posso afirmar que gostava de ter um momento só pra mim, pra descansar ou sair para me divertir.

Mas essa era a única semelhança entre Jamie e Frank. De resto eles eram totalmente opostos. Além da idade, Frank era bem mais velho, a personalidade também era algo bem diferente. Jamie, apesar de nem sempre demonstrar, era brincalhão, gostava de conversar e contar suas histórias da faculdade com Murtagh e parecia que sempre carregava naquele sorriso uma inocência diferente de seu olhar sério e determinado em relação ao seu trabalho. Já Frank era mais sério e contido. Gostava de conversar também, mas de uma forma diferente, sempre embarcava em alguma discussão sobre os fatos históricos que tanto estudava e seus efeitos na sociedade de agora. Mas porque estava analisando a personalidade dos dois? Tudo bem que às vezes passava mais tempo com Jamie que com Frank, mas éramos colegas, não sei se poderia chamá-lo de amigo.

Apesar da convivência diária, nunca conversei com ele coisas sobre a minha vida pessoal, nosso papo sempre girava em torno do nosso trabalho ou o que fazíamos antes na faculdade. E estava ótimo assim, não sei se gostaria de saber sobre a sua vida pessoal, acho que quanto mais a gente conhece sobre a pessoa, mais a gente se apega e não queria criar situações que poderiam ser constrangedoras para ambos.

Resolvi deixar de pensar nesse assunto e me concentrar no trabalho a minha frente. Comecei a cantarolar uma música que estava em minha cabeça e a escrita foi fluindo maravilhosamente. Por um momento me senti observada e quando levantei meu olhar, vi Jamie me olhando e fiquei sem graça, ele apenas sorriu e voltou a encarar seu computador. Antes que pudesse pensar em algo, Murtagh falou:

- O que acha de sairmos daqui para comemorar nosso grande avanço? Garanto que será bem mais divertido que preencher esses relatórios!

- Mas temos que entregar os resultados hoje! – falei num tom um pouco afobado, eu era muito chata com prazos a cumprir.

- Claire, hoje é sexta, ninguém irá ligar a mínima para nossos relatórios ou a falta deles!

- Isso é verdade e fiquei sabendo que Colum e Dougal viajaram hoje a negócios, o resto do laboratório está em festa! – falou Jamie rindo.

Pensei por um momento. Sabia que Murtagh já havia desistido de fazer os relatórios, ele adorava uma desculpa para ir ao Pub da esquina e sabia também que arrastaria Jamie com ele de qualquer maneira. Eu iria ficar fazendo tudo sozinha por aqui?

- Tudo bem, eu topo! Mas só se prometer me pagar uma dose de whisky, afinal sei que segunda todo esse trabalho sobrará pra mim! – pisquei para Murtagh rindo.

- Seu pedido é uma ordem! – ele falou esticando o braço num gesto cavalheiro em minha direção.

Eu apenas ri e pegando em seu braço, levantei e fomos em direção à porta com Jamie logo atrás. 

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