Capítulo 15
Selene andava calmamente por entre as tendas, sem chamar qualquer tipo de atenção do acampamento já adormecido. Ao menos era o que ela pensava, pois Edmundo percebera uma movimentação do lado de fora de sua tenda. Levantou-se rapidamente e foi verificar, mas viu apenas Selene andando de um lado para o outro, aparentemente emersa em pensamentos. E ela realmente estava. Pensava em algum modo de ajudar Aslam com aquela situação. Ainda podia tentar convencer a ele e à sua irmã que poderia fazer o sacrifício. Selene estão concentradas em seus devaneios que nem mesmo percebera Edmundo chegando sorrateiramente por trás e a abraçando pela cintura.
- O que tanto te preocupa? - perguntou ele, assim que ela se acalmara do susto.
- Não é nada. - garantiu ela, recostando-se sobre o peito dele.
- Não adianta mentir, eu sei que tem alguma coisa. - insistiu Edmundo.
Selene respirou fundo e virou-se de frente para ele. - Não se preocupe, não é nada de importante.
Edmundo segurou o rosto dela em suas mãos, de maneira delicada, como se fosse de porcelana. E, para ele, realmente era. Principalmente quando ele ficava maravilhado na profundeza de seus olhos azuis.
- Tudo que envolve você é importante para mim. - disse Edmundo.
Selene sorriu, e enfim decidiu lhe contar algumas coisinhas. Afinal, as melhores mentiras eram as meias verdades, e ela não poderia dizer muita coisa ele, à pedido de Aslam.
- Só fiquei sentida de ver a Jadis. - ela disse.
- Não fique. Vamos derrotá-la.
Selene ampliou seu sorriso. - Eu sei que vamos.
Eles se beijaram novamente e Selene estava se entorpecendo com a sensação, até que se lembra de seu principal objetivo para estar acordada ainda àquela hra.
- Agora eu preciso ir. - disse ela, ofegante, assim que se separou dele.
- Tudo bem. Boa noite, Selene. - ele disse, dando-lhe um beijo na testa antes de voltar à sua tenda.
Selene foi andando por onde jurara ter visto a sombra de Aslam passando. E se assustou ao ver que Susana e Lúcia o estavam seguindo também. Selene sabia que não podia evitar que elas vissem, então ela simplesmente fez um sinal de silêncio e pediu que elas a acompanhassem. Andavam sorrateiramente, para não serem percebidas, por entre as árvores. Aslam andava sozinho e cabisbaixo. A certa altura, ele parou e sem se virar, disse solenemente.
- Não deveriam estar na cama?
Selene foi a primeira a sair de entre as árvores; sabia que ele sabia que estavam ali. Susana e Lúcia se entreolharam, nervosas.
- Não conseguimos dormir. – disse Lúcia.
- Sabe que não precisa fazer isso. - disse Selene. - Eu posso fazer em seu lugar.
Aslam suspirou. - Não, Selene. Seu coração é um dos mais puros que existem, mas não deixarei-a passar por algo assim.
- Aslam, o que está acontecendo? - perguntou Lúcia.
- Não é o momento certo de saberem. - respondeu o leão.
- Por favor, Aslam... – pediu Susana. – Não podemos ir com você?
- Ficarei contente com a companhia por enquanto. – disse o leão. – Obrigado.
Elas seguraram na juba dele, acompanhando-o. Selene apenas segurava, Susana o amaciava e Lúcia tirava as folhas presas no pelo.
~*~
- É a hora. – disse Aslam, parando. As meninas soltaram sua juba e pararam. – Daqui... Devo seguir sozinho.
- Mas, Aslam... – protestaram Susana e Selene.
- Tem que confiar em mim. Pois deve ser feito. Obrigado, Selene. Obrigado, Susana. Obrigado, Lúcia. Adeus.
Ele virou-se e seguiu andando. Susana, sem querer ficar de fora, cutucou as meninas e seguiu com elas por um caminho lateral. Chegaram a um local onde a floresta dava uma brecha para uma grande clareira. Abaixaram-se atrás de um grande tronco derrubado e observaram.
Ouviam resmungos e gemidos torturados. Arregalaram os olhos ao verem Aslam subindo por uma escada que dava diretamente à Mesa de Pedra, onde a Feiticeira Branca usava um vestido enegrecido, acompanhada por vários de seus aliados – das mais variadas espécies de monstros. Seguravam tochas, dando ao ambiente um ar torturante e embriagado de sombras. Todos abriam caminho para o leão, fazendo gemidos e rugidos estranhos e lastimáveis. A Feiticeira subiu aos pés da Mesa de Pedra à medida que Aslam se aproximava, segurando uma adaga de pedra nas mãos.
- Observem. O Grande Leão. – disse ela aos seus comparsas, que começaram a rir.
Selene olhou para o lado, para as meninas e viu que Lúcia tinha lágrimas escorrendo pelas bochechas e Susana mantinha as suas ainda seguras nos olhos. Tocou a própria bochecha e se assustou ao ver que estava umedecida.
Ela nunca chorava.
E não pensou que choraria por algo que sabia que daria certo no final, mas ver aquela cena havia realmente a abalado.
Um minotauro aproximou-se de Aslam e o cutucou com o cabo de uma foice. Aslam rugiu levemente, como se soubesse que isso não adiantaria nada. O minotauro olhou para a Feiticeira, como se pedisse permissão. Ela levantou o queixo e o minotauro empurrou Aslam, derrubando-o no chão. Lúcia pôs a mão na boca, assustada – ao pelo fizeram com o leão, mas por este não reagir.
- Por que ele não reage? – perguntou Lúcia às meninas.
- Porque ele não pode. - respondeu Selene.
- O quê? - perguntou Susana, surpresa. - É claro que pode!
- Não. - insistiu Selene. - Foi esse o combinado que fizemos lá na tenda. Ela renunciou o sangue de Edmundo, em troca do sacrifício de Aslam.
- M-mas... Por quê ele se voluntariou? - perguntou Susana. - Não havia outro jeito?
- Ele foi no meu lugar. - disse Selene, observando a cena ao longe. - Eu tinha me oferecido para morrer no lugar de Edmundo e Aslam salvou a nós dois.
Elas se calaram, chocadas, e voltaram a observar a cena.
- Amarrem o animal! – exclamou a Feiticeira. Muitas criaturas se aproximaram e o amarraram fortemente. – Esperem! Tirem todo o pelo dele.
Um anão aproximou-se e arrancou um maço de pelos da juba dele com uma faca e o exibiu aos outros, que rugiram e aplaudiram, extasiados. Vários outros então se aproximaram e seguiram seu exemplo, deixando as três meninas que observavam de longe, tontas e enojadas.
- Podem trazê-lo a mim. – disse a Feiticeira.
Quando então Aslam já estava deitado sobre a Mesa de Pedra, a Feiticeira levantou o braço direito e todos se calaram, fazendo um silêncio assombroso. Os que estavam com a tocha, começaram a bater com a base no chão, fazendo um barulho de suspense no chão de pedra.
A Feiticeira se agachou e estendeu o braço sobre o leão.
- Sabe, Aslam... – disse ela. – Estou meio decepcionada com você. Achou mesmo que com tudo isso poderia salvar o traidor humano e minha irmã ingênua?
Selene finalmente sentiu que chorava. Sua garganta se apertou, quase ao ponto de não conseguir respirar e ela deu um forte soluço, que por sorte não foi ouvido pelos inimigos.
- Você vai me dar a sua vida... – continuou a Feiticeira. – Mas ninguém será salvo. – ela deu uma risada nasalada e sarcástica. – É nisso que dá o amor.
Ela se levantou e gritou para todos.
- Esta noite... Será satisfeita a Magia Profunda! – os barulhos tornaram-se mais fortes e rápidos. – Mas amanhã... Nós tomaremos Nárnia... Para sempre! Consciente disso... – disse para o leão indefeso aos seus pés. – Desespere-se... – levantou a adaga, a ponta apontada para o leão. – E MORRA!
Ela enfiou a adaga no flanco do animal, que deu seu último suspiro enquanto as três meninas se abraçavam, chorando e soluçando. A Feiticeira sentou-se ao lado de Aslam e, abrindo os braços, anunciou.
- O Grande Gato... Está morto! – virou-se para o minotauro que machucara Aslam anteriormente. – General. Prepare suas tropas para a batalha... – ele rugiu em resposta. – Por mais curta que ela possa ser.
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